O que eu gostaria que acontecesse:
Que em todas as manhãs de domingo chovesse... para eu dormir melhor,
Que os celulares ficassem mudos... Apenas chegassem as necessárias chamadas... (ah, que aprendessem a desligar o aparelho nas sessões de cinema e teatro!!!)
Que todos conseguissem amigos reais... para rir e chorar,
As guerras... Que as guerras continuassem – aquelas que fazíamos com os travesseiros na infância,
Que todos passassem mal se não lessem poemas, romances ou novelas a cada seis horas,
Que nossos trabalhos fossem prazerosos e recompensadores,
Que fôssemos como o menino de um conto de Eduardo Galeano, quando faz toda uma travessia de trem e a pé com o pai dele para conhecer o mar; atravessando as dunas, sente espanto e medo da grandiosidade do que faz barulho atrás das areias, da imensidão das águas que conhecerá. Então pede que o pai lhe dê a mão para que o ajude a “ver” melhor,
Que nossos mortos queridos viessem nos abraçar e contar algo engraçado do “lado de lá”,
Que pudéssemos ficar em silêncio sem fazer absolutamente nada... (não quero!)
Que todas as pessoas frustradas e maldosamente invejosas fossem levadas para bem longe por um tornado... (essas não precisam mandar notícias, mesmo!)
Que todos soubessem sorrir, sorrir, sorrir... enfim, gargalhar!
Que houvesse explicação para aquilo que não sabemos compreender,
Que o ato mais violento a existir fosse o de uma mãe parindo,
Que cada pessoa apreciasse o talento que, de fato, tem...
Que os outros percebessem que fazemos bobagens, e não maldades,
Que todos aprendessem a dizer “bom dia”, “boa tarde”, “com licença”, “desculpe-me”, “por favor”, “venha cá e me dê um abraço”...
Que sempre houvesse um pé de café florindo,
Que a lua, não raro, testemunhasse o beijo dos amantes,
Que houvesse sexo apenas entre os que sentem o verdadeiro e profundo desejo... E que o gozo não fosse a morte desse desejo,
Todos aqueles que ainda não se apaixonaram, pudessem sentir isso de forma grandiosa... (haveria menos recalcados!)
Que só interpretássemos aquilo que conhecemos, já que só conhecemos aquilo que vivemos,
Obviamente não negando a morte, mas que a doença que maltrata a tantos tivesse cura... E todos, então, falassem, jocosamente, com o convalescente que fora apenas um susto... já passou!
Que a velhice tivesse menos “ose” e “ite”: esclerose, trombose, artrite...
E que, quando morrêssemos, fôssemos transformados em pássaros ou em estrelas – para cantar nas manhãs de domingo com chuva ou para brilhar junto com Deus... lá de cima, assim que Ele voltasse das férias.
Roberto Medina – professor e escritor
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