sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Orégano


Porquê sou sua filha e temos a mesma idade? Afinal, quantos anos eu tenho? 28 ou 35?

Ele é ou não meu pai? Por que Orégano?

Um conjunto de perguntas sem resposta formam a peça Orégano do argentino Sergio Lobo. A Cia Hecatombe existe há aproximadamente três anos, nasceu basicamente para produzir Órégano.

Romina, a complexada, não sabe de onde veio e para onde irá, nem ao me

nos quantos anos tem, denuncia o fracasso da família para encobrir seus próprios medos e anseios. Culpa a mãe, Alícia, que aos seus 53 anos é um tanto quanto leviana e desequilibrada emocionalmente, por sua infelicidade. O pai, Norberto – ocasionalmente chamado de Hector por Alícia – é um ex-açougueiro. Ou açougueiro desempregado? Talvez por estar na cadeira de rodas, o ofício tenha se tornado pouco mais penoso que o normal. Para fechar o elenco: Gordo. O Irmão de Romina que na verdade é magro, muito, muito magro. “Tinha futuro no futebol, mas suas pernas começaram a ficar fininhas...”. Segundo o texto, tão finas ficaram as pernas que o fêmur se partiu em onze pedaços. Ou foram oito?

A peça toda se passa ao redor de uma mesa, onde questões existenciais

são debatidas. Discussão tanto quanto excêntrica, os sentimentos dos filhos são oprimidos ora pelo revolver de Alícia, ora pelo facão de Hector... digo Norberto!

A desconfiança da traição, à essas alturas do campeonato é só um detalhe. Gordo é gay, namora – ou não – o tal bombeiro Albertinho, ou melhor Alberto, que em momento algum dá as caras à plateia. Tenta contar isso o tempo todo para o pai, pois quer o direito de sair de casa e morar em um apartamento alugado. No entanto, com todo esse espírito de liberdade, Gordo ainda tem medo de ir ao banheiro sozinho. Ouve vozes ao lado da privada.

Discípula de Evita Perón, Alícia passa a vida à dançar tangos e mostrar toda a sua potência vocal em “Canto Lírico”. Extremamente preocupada com a beleza, não se apega sentimentalmente aos entes 'queridos'. E, adora lembrar o marido – fracassado – que não conseguiu ser Rastafari como queria, e nem serviu para ser açougueiro.

Norberto, rastafari frustado, açougueiro desempregado, traído, pai de uma filha complexada e de um filho “bichona” - como ele afirma – além de tudo tem um projeto de rádio comunitária que nunca nem chegou ao papel. Quanto mais sair dele. No momento que Alícia promete partir e abandonar a família, tenta suicídio.

Os filhos passam a ocupar o lugar dos pais, o por quê? Só assistindo para saber.

Afinal, Orégano é um jogo de perguntas sem respostas, que leva à reflexão sobre o mundo e a importância de estarmos nele. Segundo Romina, “ninguém se parece com ninguém, ninguém, ninguém”.

Uma fotografia espetacular, com momentos de êxtase onde todos os atores param e 'pousam' perfeitamente. A mescla entre teatro, dança, música, corpo, rosto, sentidos e sentimentos é incrivelmente harmônica. Todas as danças, e músicas, se encaixam perfeitamente com a situação.

Orégano foi a estreia do Festival de Teatro de Foz do Iguaçu. O grupo fica em Foz do Iguaçu até domingo de manhã prestigiando o festival.


Mariana Serafini

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